Descubra qual atividade física é a mais interessante para a sua atual situação de vida
texto Marcia Bindo fotos Manuel Nogueira
Kung fu para ganhar confiança e melhorar a autoestima.
Tênis para se divertir e se desestressar do trabalho.
Ioga para alongar e ficar relax na gravidez.
Corrida para liberar a tensão acumulada. Qual será a próxima?
Eu sentia que precisava deixar meu corpo ágil, esperto, forte, como uma guerreira samurai. Havia também gritos sufocados na garganta e seria bom soltá-los. Matriculeime na academia de kung fu perto de casa. Achei que me faria bem. E fez. Durante dois anos, aprendi o básico da arte marcial, liberei meus gritinhos, pernas e braços ganharam reflexos ligeiros e uma força que eu não fazia a menor ideia que tinha surgiu. Entendi que era preciso respeitar o adversário, mas lutar com bravura.
Procurei uma arte marcial porque queria ganhar força. Não só no corpo, mas na cuca também. Passava por um período de muitas transformações e estava parecendo mais com uma taça de cristal, delicada e frágil. Teria que embalála bem para suportar as mudanças. O reforço veio por meio dessa atividade física, que fortifica o corpo e a mente.
Não foi a primeira vez que isso aconteceu. Desde pequena que escolho intuitivamente alguns esportes, de acordo com o que sinto que preciso no momento. Na infância, queria perder a timidez e lá fui rebolar com minhas polainas nas aulas de jazz. Flexibilidade para lidar com tudo na adolescência? Ginástica olímpica. Mais entrosamento com a galera da escola? Basquete! Fim do colegial, momento de escolhas? Dá-lhe ioga para – inspira e expira – me conhecer melhor. Descobri que isso faz sentido.
Conversei com psicólogos especialistas em esporte que me explicaram por quê, afinal, é tão interessante sacar o que cada atividade tem de bom para o que você precisa, aqui e agora. “O ser humano é dinâmico e suas necessidades também. Cabe a cada um reconhecer o momento em que está vivendo e perceber as atividades que são pertinentes para ela”, diz João Ricardo Cozac, presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte.
Mas existem maneiras de descobrir qual é o esporte para chamar de seu. Mesmo que seja só nesta temporada.
Prazer em primeiro lugar A vida já tem chatices e responsabilidades demais. A escolha da atividade física deve estar vinculada com algum tipo de prazer. Infelizmene, muita gente acha que tem que fezer ginástica meio que por obrigação. Conclusão: acaba se inscrevendo em qualquer aula na academia ou, pior, é seduzida pelo hit do verão, a nova atividade da moda. “Quando uma pessoa resolve se enquadrar em um exercício no qual não sente satisfação, dificilmente conseguirá aderir e a chance de parar é altíssima”, diz a psicóloga esportiva Carla di Pierro. “Outra questão é relacionar esse momento ao ambiente da academia, que pode ser desestimulante. Existem outras possibilidades de se exercitar, em escolas específicas de dança, natação e Pilates ou em parques”, diz.
Carla conta que faz triatlon amador há 12 anos. Quando começou, ainda na faculdade, buscava reconhecimento (confessou que se sentia a bambambã porque tinha poucas mulheres na época fazendo o esporte). “Em psicologia, chamamos isso de reforçadores – tudo o que nos gera recompensas”, diz Carla. Pode ser o fato de ver o corpo mudar, ficar mais forte, ter mais resistência, se sentir mais bonito, se divertir, ter saúde, aumentar a rede social, enfim, cada pessoa busca um “reforçador” quando escolhe uma atividade física.
A questão é que muitos desses prazeres não acontecem de maneira imediata – como assistir a um filme e comer pipoca. É preciso um primeiro passo, um deslocamento, demonstrar aquele esforcinho extra. Como somos imediatistas, queremos o prazer na hora. O que nem sempre acontece na atividade física. O prazer pode vir instantaneamente ou ser uma consequência da atividade. Daí a importância de conseguir visualizar a recompensa lá na frente para nos sacolejar da inércia.
Agora, o mais interessante é que o tal “reforçador” muda com o passar do tempo. E o esporte que era tão empolgante depois de um tempo não provoca mais as mesmas emoções. Ou acaba ganhando outro significado. A Carla, por exemplo, continua fiel ao triatlon aos 30 anos, mas suas recompensas são outras. Ela pratica para manter a forma e, sobretudo, porque é um momento de lazer – que de lambuja ainda dá muito prazer.
As questões psicológicas Uma coisa é certa: seres humanos não nasceram para ficar parados como um poste. O corpo precisa de movimento. Não é por isso que você vai sair por aí imitando o que o vizinho ou uma personalidade de TV faz. Esse é um processo de escolha individual que depende das necessidades físicas e psicológicas de cada um. Muito difícil saber qual a sua? Veja alguns exemplos. Uma pessoa tem um trabalho bastante estressante e quer extravasar energia. Nesse caso, não é recomendado fazer musculação, que é o caminho contrário – acaba tencionando a musculatura. Se sua rotina é nervosa, experimente alguma atividade aeróbica, como correr, caminhar, nadar e pedalar, que estimulam a melhora do desempenho cardiovascular e diminuem a pressão sanguínea, o que ajuda a aliviar a tensão.
Por outro lado, quem trabalha com muita gente pode ter necessidade de ficar só em algum momento. Que tal experimentar atividades mais individuais, como a natação e a corrida? Já quem tem um cotidiano solitário e quer se socializar pode procurar uma equipe de corrida, esportes coletivos (como futebol, tênis, vôlei e basquete) ou ainda danças populares e de salão. Se você está transbordando de estresse, tente atividades mais lúdicas, que são pura diversão, como pedalar no parque e jogar uma pelada com os amigos. A ioga pode ajudar como coadjuvante de terapia para os casos de depressão e síndrome do pânico, por exemplo. A arte marcial é muitas vezes prescrita para quem busca sua força interior, e por aí vai.
“Não tem uma regra”, diz João Ricardo Cozac. “A escolha é mesmo subjetiva.” Um psicólogo do esporte cuida de casos específicos de atletas, mas também de pessoas que estão em conflito com a própria prática esportiva, por faltar motivação ou não se sentir realizadas. A ideia é pensar em conjunto e rever o que está acontecendo na vida, se a atividade não está descolada de quem você é. Cozac conta a história de um executivo de 45 anos que o procurou porque estava muito estressado no trabalho, sem energia, se alimentando de forma errada, dormindo mal – e toda atividade que fazia era chatíssima. Ele estava perdido. Começou a caminhar para expurgar as tensões, acompanhado por uma equipe num parque em São Paulo. Tomou gosto e passou a correr. “Ele se encontrou na atividade e transformou radicalmente sua disposição para encarar os desafios, ficou mais paciente e aberto para o diálogo”, diz Cozac.
A personalidade manda Você, como eu, certamente já abandou alguma atividade logo no começo. Pois é. As estatísticas mostram que nos seis primeiros meses de atividade física, 50% das pessoas que se inscreveram vão acabar desistindo. Há até algumas estratégias que ajudam a manter a regularidade: que o exercício seja feito próximo da casa ou do trabalho, ter um amigo que faça o esporte, o que é um baita estímulo, mas o principal é exatamente o assunto tratado aqui: que ele seja coerente com a sua personalidade.
Apesar das constantes mudanças, todos temos uma personalidade bem definida. Alguns psicólogos acreditam que, se você conhecer a fundo suas características, saberá com mais acertividade que atividade físíca se encaixa melhor no seu perfil. E existem classificações de personalidade. Segundo a psicóloga do esporte Marisa Agresta, uma delas explica que há quatro tipos básicos: os executivos, os ativos, os pensativos e os interativos.
Pessoas com características dos executivos gostam de ordem e resultados. Portanto, preferem musculação com planilhas de treino, Pilates – que é um exercício programado –, tênis e golfe. São os que gostam de atividades que apontam como melhorar e querem ver o resultado aparecer logo.
Os ativos são os que gostam de desafio, de atividades energéticas. Ação é a palavra de ordem. Como power-ioga, trekking, luta, basquete e futebol. Já os pensativos são pessoas tranquilas, que buscam competência, perfeição. Preferem aulas mais intelectuais, em que são ensinados os movimentos nos mínimos detalhes. Ou atividades introspectivas, como dança moderna, alongamento, mergulho e maratona.
Por fim, os interativos, como a palavra diz, buscam a interação humana. Eles se realizam com movimentos mais expressivos, de baixo impacto e tempos mais lentos. Preferem um ambiente acolhedor. Exemplos: ioga, hidroginásica, caminhada e tai chi chuan.
Tatear para acertar Se nessa altura do campeonato você já sacou o que pode ser legal para a sua personalidade, mas ficou travado só de pensar na lista de possibilidades, o que fazer? “Experimente bastante. Eu confio no tatear”, diz Carla di Pierro. “Aconselho sempre que a pessoa faça algumas aulas para ver como ela se sente.” É o tal jogo do acerto e do erro. Só que, nesse caso, você só tem a ganhar.
Kung fu para ganhar confiança e melhorar a autoestima.
Tênis para se divertir e se desestressar do trabalho.
Ioga para alongar e ficar relax na gravidez.
Corrida para liberar a tensão acumulada. Qual será a próxima?
Eu sentia que precisava deixar meu corpo ágil, esperto, forte, como uma guerreira samurai. Havia também gritos sufocados na garganta e seria bom soltá-los. Matriculeime na academia de kung fu perto de casa. Achei que me faria bem. E fez. Durante dois anos, aprendi o básico da arte marcial, liberei meus gritinhos, pernas e braços ganharam reflexos ligeiros e uma força que eu não fazia a menor ideia que tinha surgiu. Entendi que era preciso respeitar o adversário, mas lutar com bravura.
Procurei uma arte marcial porque queria ganhar força. Não só no corpo, mas na cuca também. Passava por um período de muitas transformações e estava parecendo mais com uma taça de cristal, delicada e frágil. Teria que embalála bem para suportar as mudanças. O reforço veio por meio dessa atividade física, que fortifica o corpo e a mente.
Não foi a primeira vez que isso aconteceu. Desde pequena que escolho intuitivamente alguns esportes, de acordo com o que sinto que preciso no momento. Na infância, queria perder a timidez e lá fui rebolar com minhas polainas nas aulas de jazz. Flexibilidade para lidar com tudo na adolescência? Ginástica olímpica. Mais entrosamento com a galera da escola? Basquete! Fim do colegial, momento de escolhas? Dá-lhe ioga para – inspira e expira – me conhecer melhor. Descobri que isso faz sentido.
Conversei com psicólogos especialistas em esporte que me explicaram por quê, afinal, é tão interessante sacar o que cada atividade tem de bom para o que você precisa, aqui e agora. “O ser humano é dinâmico e suas necessidades também. Cabe a cada um reconhecer o momento em que está vivendo e perceber as atividades que são pertinentes para ela”, diz João Ricardo Cozac, presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte.
Mas existem maneiras de descobrir qual é o esporte para chamar de seu. Mesmo que seja só nesta temporada.
Prazer em primeiro lugar A vida já tem chatices e responsabilidades demais. A escolha da atividade física deve estar vinculada com algum tipo de prazer. Infelizmene, muita gente acha que tem que fezer ginástica meio que por obrigação. Conclusão: acaba se inscrevendo em qualquer aula na academia ou, pior, é seduzida pelo hit do verão, a nova atividade da moda. “Quando uma pessoa resolve se enquadrar em um exercício no qual não sente satisfação, dificilmente conseguirá aderir e a chance de parar é altíssima”, diz a psicóloga esportiva Carla di Pierro. “Outra questão é relacionar esse momento ao ambiente da academia, que pode ser desestimulante. Existem outras possibilidades de se exercitar, em escolas específicas de dança, natação e Pilates ou em parques”, diz.
Carla conta que faz triatlon amador há 12 anos. Quando começou, ainda na faculdade, buscava reconhecimento (confessou que se sentia a bambambã porque tinha poucas mulheres na época fazendo o esporte). “Em psicologia, chamamos isso de reforçadores – tudo o que nos gera recompensas”, diz Carla. Pode ser o fato de ver o corpo mudar, ficar mais forte, ter mais resistência, se sentir mais bonito, se divertir, ter saúde, aumentar a rede social, enfim, cada pessoa busca um “reforçador” quando escolhe uma atividade física.
A questão é que muitos desses prazeres não acontecem de maneira imediata – como assistir a um filme e comer pipoca. É preciso um primeiro passo, um deslocamento, demonstrar aquele esforcinho extra. Como somos imediatistas, queremos o prazer na hora. O que nem sempre acontece na atividade física. O prazer pode vir instantaneamente ou ser uma consequência da atividade. Daí a importância de conseguir visualizar a recompensa lá na frente para nos sacolejar da inércia.
Agora, o mais interessante é que o tal “reforçador” muda com o passar do tempo. E o esporte que era tão empolgante depois de um tempo não provoca mais as mesmas emoções. Ou acaba ganhando outro significado. A Carla, por exemplo, continua fiel ao triatlon aos 30 anos, mas suas recompensas são outras. Ela pratica para manter a forma e, sobretudo, porque é um momento de lazer – que de lambuja ainda dá muito prazer.
As questões psicológicas Uma coisa é certa: seres humanos não nasceram para ficar parados como um poste. O corpo precisa de movimento. Não é por isso que você vai sair por aí imitando o que o vizinho ou uma personalidade de TV faz. Esse é um processo de escolha individual que depende das necessidades físicas e psicológicas de cada um. Muito difícil saber qual a sua? Veja alguns exemplos. Uma pessoa tem um trabalho bastante estressante e quer extravasar energia. Nesse caso, não é recomendado fazer musculação, que é o caminho contrário – acaba tencionando a musculatura. Se sua rotina é nervosa, experimente alguma atividade aeróbica, como correr, caminhar, nadar e pedalar, que estimulam a melhora do desempenho cardiovascular e diminuem a pressão sanguínea, o que ajuda a aliviar a tensão.
Por outro lado, quem trabalha com muita gente pode ter necessidade de ficar só em algum momento. Que tal experimentar atividades mais individuais, como a natação e a corrida? Já quem tem um cotidiano solitário e quer se socializar pode procurar uma equipe de corrida, esportes coletivos (como futebol, tênis, vôlei e basquete) ou ainda danças populares e de salão. Se você está transbordando de estresse, tente atividades mais lúdicas, que são pura diversão, como pedalar no parque e jogar uma pelada com os amigos. A ioga pode ajudar como coadjuvante de terapia para os casos de depressão e síndrome do pânico, por exemplo. A arte marcial é muitas vezes prescrita para quem busca sua força interior, e por aí vai.
“Não tem uma regra”, diz João Ricardo Cozac. “A escolha é mesmo subjetiva.” Um psicólogo do esporte cuida de casos específicos de atletas, mas também de pessoas que estão em conflito com a própria prática esportiva, por faltar motivação ou não se sentir realizadas. A ideia é pensar em conjunto e rever o que está acontecendo na vida, se a atividade não está descolada de quem você é. Cozac conta a história de um executivo de 45 anos que o procurou porque estava muito estressado no trabalho, sem energia, se alimentando de forma errada, dormindo mal – e toda atividade que fazia era chatíssima. Ele estava perdido. Começou a caminhar para expurgar as tensões, acompanhado por uma equipe num parque em São Paulo. Tomou gosto e passou a correr. “Ele se encontrou na atividade e transformou radicalmente sua disposição para encarar os desafios, ficou mais paciente e aberto para o diálogo”, diz Cozac.
A personalidade manda Você, como eu, certamente já abandou alguma atividade logo no começo. Pois é. As estatísticas mostram que nos seis primeiros meses de atividade física, 50% das pessoas que se inscreveram vão acabar desistindo. Há até algumas estratégias que ajudam a manter a regularidade: que o exercício seja feito próximo da casa ou do trabalho, ter um amigo que faça o esporte, o que é um baita estímulo, mas o principal é exatamente o assunto tratado aqui: que ele seja coerente com a sua personalidade.
Apesar das constantes mudanças, todos temos uma personalidade bem definida. Alguns psicólogos acreditam que, se você conhecer a fundo suas características, saberá com mais acertividade que atividade físíca se encaixa melhor no seu perfil. E existem classificações de personalidade. Segundo a psicóloga do esporte Marisa Agresta, uma delas explica que há quatro tipos básicos: os executivos, os ativos, os pensativos e os interativos.
Pessoas com características dos executivos gostam de ordem e resultados. Portanto, preferem musculação com planilhas de treino, Pilates – que é um exercício programado –, tênis e golfe. São os que gostam de atividades que apontam como melhorar e querem ver o resultado aparecer logo.
Os ativos são os que gostam de desafio, de atividades energéticas. Ação é a palavra de ordem. Como power-ioga, trekking, luta, basquete e futebol. Já os pensativos são pessoas tranquilas, que buscam competência, perfeição. Preferem aulas mais intelectuais, em que são ensinados os movimentos nos mínimos detalhes. Ou atividades introspectivas, como dança moderna, alongamento, mergulho e maratona.
Por fim, os interativos, como a palavra diz, buscam a interação humana. Eles se realizam com movimentos mais expressivos, de baixo impacto e tempos mais lentos. Preferem um ambiente acolhedor. Exemplos: ioga, hidroginásica, caminhada e tai chi chuan.
Tatear para acertar Se nessa altura do campeonato você já sacou o que pode ser legal para a sua personalidade, mas ficou travado só de pensar na lista de possibilidades, o que fazer? “Experimente bastante. Eu confio no tatear”, diz Carla di Pierro. “Aconselho sempre que a pessoa faça algumas aulas para ver como ela se sente.” É o tal jogo do acerto e do erro. Só que, nesse caso, você só tem a ganhar.
Pé no chão
O esporte do momento
Descubra qual atividade física é a mais interessante para a sua atual situação de vida
texto Marcia Bindo fotos Manuel Nogueira
Kung fu para ganhar confiança e melhorar a autoestima.
Tênis para se divertir e se desestressar do trabalho.
Ioga para alongar e ficar relax na gravidez.
Corrida para liberar a tensão acumulada. Qual será a próxima?
Eu sentia que precisava deixar meu corpo ágil, esperto, forte, como uma guerreira samurai. Havia também gritos sufocados na garganta e seria bom soltá-los. Matriculeime na academia de kung fu perto de casa. Achei que me faria bem. E fez. Durante dois anos, aprendi o básico da arte marcial, liberei meus gritinhos, pernas e braços ganharam reflexos ligeiros e uma força que eu não fazia a menor ideia que tinha surgiu. Entendi que era preciso respeitar o adversário, mas lutar com bravura.
Procurei uma arte marcial porque queria ganhar força. Não só no corpo, mas na cuca também. Passava por um período de muitas transformações e estava parecendo mais com uma taça de cristal, delicada e frágil. Teria que embalála bem para suportar as mudanças. O reforço veio por meio dessa atividade física, que fortifica o corpo e a mente.
Não foi a primeira vez que isso aconteceu. Desde pequena que escolho intuitivamente alguns esportes, de acordo com o que sinto que preciso no momento. Na infância, queria perder a timidez e lá fui rebolar com minhas polainas nas aulas de jazz. Flexibilidade para lidar com tudo na adolescência? Ginástica olímpica. Mais entrosamento com a galera da escola? Basquete! Fim do colegial, momento de escolhas? Dá-lhe ioga para – inspira e expira – me conhecer melhor. Descobri que isso faz sentido.
Conversei com psicólogos especialistas em esporte que me explicaram por quê, afinal, é tão interessante sacar o que cada atividade tem de bom para o que você precisa, aqui e agora. “O ser humano é dinâmico e suas necessidades também. Cabe a cada um reconhecer o momento em que está vivendo e perceber as atividades que são pertinentes para ela”, diz João Ricardo Cozac, presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte.
Mas existem maneiras de descobrir qual é o esporte para chamar de seu. Mesmo que seja só nesta temporada.
Prazer em primeiro lugar A vida já tem chatices e responsabilidades demais. A escolha da atividade física deve estar vinculada com algum tipo de prazer. Infelizmene, muita gente acha que tem que fezer ginástica meio que por obrigação. Conclusão: acaba se inscrevendo em qualquer aula na academia ou, pior, é seduzida pelo hit do verão, a nova atividade da moda. “Quando uma pessoa resolve se enquadrar em um exercício no qual não sente satisfação, dificilmente conseguirá aderir e a chance de parar é altíssima”, diz a psicóloga esportiva Carla di Pierro. “Outra questão é relacionar esse momento ao ambiente da academia, que pode ser desestimulante. Existem outras possibilidades de se exercitar, em escolas específicas de dança, natação e Pilates ou em parques”, diz.
Carla conta que faz triatlon amador há 12 anos. Quando começou, ainda na faculdade, buscava reconhecimento (confessou que se sentia a bambambã porque tinha poucas mulheres na época fazendo o esporte). “Em psicologia, chamamos isso de reforçadores – tudo o que nos gera recompensas”, diz Carla. Pode ser o fato de ver o corpo mudar, ficar mais forte, ter mais resistência, se sentir mais bonito, se divertir, ter saúde, aumentar a rede social, enfim, cada pessoa busca um “reforçador” quando escolhe uma atividade física.
A questão é que muitos desses prazeres não acontecem de maneira imediata – como assistir a um filme e comer pipoca. É preciso um primeiro passo, um deslocamento, demonstrar aquele esforcinho extra. Como somos imediatistas, queremos o prazer na hora. O que nem sempre acontece na atividade física. O prazer pode vir instantaneamente ou ser uma consequência da atividade. Daí a importância de conseguir visualizar a recompensa lá na frente para nos sacolejar da inércia.
Agora, o mais interessante é que o tal “reforçador” muda com o passar do tempo. E o esporte que era tão empolgante depois de um tempo não provoca mais as mesmas emoções. Ou acaba ganhando outro significado. A Carla, por exemplo, continua fiel ao triatlon aos 30 anos, mas suas recompensas são outras. Ela pratica para manter a forma e, sobretudo, porque é um momento de lazer – que de lambuja ainda dá muito prazer.
As questões psicológicas Uma coisa é certa: seres humanos não nasceram para ficar parados como um poste. O corpo precisa de movimento. Não é por isso que você vai sair por aí imitando o que o vizinho ou uma personalidade de TV faz. Esse é um processo de escolha individual que depende das necessidades físicas e psicológicas de cada um. Muito difícil saber qual a sua? Veja alguns exemplos. Uma pessoa tem um trabalho bastante estressante e quer extravasar energia. Nesse caso, não é recomendado fazer musculação, que é o caminho contrário – acaba tencionando a musculatura. Se sua rotina é nervosa, experimente alguma atividade aeróbica, como correr, caminhar, nadar e pedalar, que estimulam a melhora do desempenho cardiovascular e diminuem a pressão sanguínea, o que ajuda a aliviar a tensão.
Por outro lado, quem trabalha com muita gente pode ter necessidade de ficar só em algum momento. Que tal experimentar atividades mais individuais, como a natação e a corrida? Já quem tem um cotidiano solitário e quer se socializar pode procurar uma equipe de corrida, esportes coletivos (como futebol, tênis, vôlei e basquete) ou ainda danças populares e de salão. Se você está transbordando de estresse, tente atividades mais lúdicas, que são pura diversão, como pedalar no parque e jogar uma pelada com os amigos. A ioga pode ajudar como coadjuvante de terapia para os casos de depressão e síndrome do pânico, por exemplo. A arte marcial é muitas vezes prescrita para quem busca sua força interior, e por aí vai.
“Não tem uma regra”, diz João Ricardo Cozac. “A escolha é mesmo subjetiva.” Um psicólogo do esporte cuida de casos específicos de atletas, mas também de pessoas que estão em conflito com a própria prática esportiva, por faltar motivação ou não se sentir realizadas. A ideia é pensar em conjunto e rever o que está acontecendo na vida, se a atividade não está descolada de quem você é. Cozac conta a história de um executivo de 45 anos que o procurou porque estava muito estressado no trabalho, sem energia, se alimentando de forma errada, dormindo mal – e toda atividade que fazia era chatíssima. Ele estava perdido. Começou a caminhar para expurgar as tensões, acompanhado por uma equipe num parque em São Paulo. Tomou gosto e passou a correr. “Ele se encontrou na atividade e transformou radicalmente sua disposição para encarar os desafios, ficou mais paciente e aberto para o diálogo”, diz Cozac.
A personalidade manda Você, como eu, certamente já abandou alguma atividade logo no começo. Pois é. As estatísticas mostram que nos seis primeiros meses de atividade física, 50% das pessoas que se inscreveram vão acabar desistindo. Há até algumas estratégias que ajudam a manter a regularidade: que o exercício seja feito próximo da casa ou do trabalho, ter um amigo que faça o esporte, o que é um baita estímulo, mas o principal é exatamente o assunto tratado aqui: que ele seja coerente com a sua personalidade.
Apesar das constantes mudanças, todos temos uma personalidade bem definida. Alguns psicólogos acreditam que, se você conhecer a fundo suas características, saberá com mais acertividade que atividade físíca se encaixa melhor no seu perfil. E existem classificações de personalidade. Segundo a psicóloga do esporte Marisa Agresta, uma delas explica que há quatro tipos básicos: os executivos, os ativos, os pensativos e os interativos.
Pessoas com características dos executivos gostam de ordem e resultados. Portanto, preferem musculação com planilhas de treino, Pilates – que é um exercício programado –, tênis e golfe. São os que gostam de atividades que apontam como melhorar e querem ver o resultado aparecer logo.
Os ativos são os que gostam de desafio, de atividades energéticas. Ação é a palavra de ordem. Como power-ioga, trekking, luta, basquete e futebol. Já os pensativos são pessoas tranquilas, que buscam competência, perfeição. Preferem aulas mais intelectuais, em que são ensinados os movimentos nos mínimos detalhes. Ou atividades introspectivas, como dança moderna, alongamento, mergulho e maratona.
Por fim, os interativos, como a palavra diz, buscam a interação humana. Eles se realizam com movimentos mais expressivos, de baixo impacto e tempos mais lentos. Preferem um ambiente acolhedor. Exemplos: ioga, hidroginásica, caminhada e tai chi chuan.
Tatear para acertar Se nessa altura do campeonato você já sacou o que pode ser legal para a sua personalidade, mas ficou travado só de pensar na lista de possibilidades, o que fazer? “Experimente bastante. Eu confio no tatear”, diz Carla di Pierro. “Aconselho sempre que a pessoa faça algumas aulas para ver como ela se sente.” É o tal jogo do acerto e do erro. Só que, nesse caso, você só tem a ganhar.
Kung fu para ganhar confiança e melhorar a autoestima.
Tênis para se divertir e se desestressar do trabalho.
Ioga para alongar e ficar relax na gravidez.
Corrida para liberar a tensão acumulada. Qual será a próxima?
Eu sentia que precisava deixar meu corpo ágil, esperto, forte, como uma guerreira samurai. Havia também gritos sufocados na garganta e seria bom soltá-los. Matriculeime na academia de kung fu perto de casa. Achei que me faria bem. E fez. Durante dois anos, aprendi o básico da arte marcial, liberei meus gritinhos, pernas e braços ganharam reflexos ligeiros e uma força que eu não fazia a menor ideia que tinha surgiu. Entendi que era preciso respeitar o adversário, mas lutar com bravura.
Procurei uma arte marcial porque queria ganhar força. Não só no corpo, mas na cuca também. Passava por um período de muitas transformações e estava parecendo mais com uma taça de cristal, delicada e frágil. Teria que embalála bem para suportar as mudanças. O reforço veio por meio dessa atividade física, que fortifica o corpo e a mente.
Não foi a primeira vez que isso aconteceu. Desde pequena que escolho intuitivamente alguns esportes, de acordo com o que sinto que preciso no momento. Na infância, queria perder a timidez e lá fui rebolar com minhas polainas nas aulas de jazz. Flexibilidade para lidar com tudo na adolescência? Ginástica olímpica. Mais entrosamento com a galera da escola? Basquete! Fim do colegial, momento de escolhas? Dá-lhe ioga para – inspira e expira – me conhecer melhor. Descobri que isso faz sentido.
Conversei com psicólogos especialistas em esporte que me explicaram por quê, afinal, é tão interessante sacar o que cada atividade tem de bom para o que você precisa, aqui e agora. “O ser humano é dinâmico e suas necessidades também. Cabe a cada um reconhecer o momento em que está vivendo e perceber as atividades que são pertinentes para ela”, diz João Ricardo Cozac, presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte.
Mas existem maneiras de descobrir qual é o esporte para chamar de seu. Mesmo que seja só nesta temporada.
Prazer em primeiro lugar A vida já tem chatices e responsabilidades demais. A escolha da atividade física deve estar vinculada com algum tipo de prazer. Infelizmene, muita gente acha que tem que fezer ginástica meio que por obrigação. Conclusão: acaba se inscrevendo em qualquer aula na academia ou, pior, é seduzida pelo hit do verão, a nova atividade da moda. “Quando uma pessoa resolve se enquadrar em um exercício no qual não sente satisfação, dificilmente conseguirá aderir e a chance de parar é altíssima”, diz a psicóloga esportiva Carla di Pierro. “Outra questão é relacionar esse momento ao ambiente da academia, que pode ser desestimulante. Existem outras possibilidades de se exercitar, em escolas específicas de dança, natação e Pilates ou em parques”, diz.
Carla conta que faz triatlon amador há 12 anos. Quando começou, ainda na faculdade, buscava reconhecimento (confessou que se sentia a bambambã porque tinha poucas mulheres na época fazendo o esporte). “Em psicologia, chamamos isso de reforçadores – tudo o que nos gera recompensas”, diz Carla. Pode ser o fato de ver o corpo mudar, ficar mais forte, ter mais resistência, se sentir mais bonito, se divertir, ter saúde, aumentar a rede social, enfim, cada pessoa busca um “reforçador” quando escolhe uma atividade física.
A questão é que muitos desses prazeres não acontecem de maneira imediata – como assistir a um filme e comer pipoca. É preciso um primeiro passo, um deslocamento, demonstrar aquele esforcinho extra. Como somos imediatistas, queremos o prazer na hora. O que nem sempre acontece na atividade física. O prazer pode vir instantaneamente ou ser uma consequência da atividade. Daí a importância de conseguir visualizar a recompensa lá na frente para nos sacolejar da inércia.
Agora, o mais interessante é que o tal “reforçador” muda com o passar do tempo. E o esporte que era tão empolgante depois de um tempo não provoca mais as mesmas emoções. Ou acaba ganhando outro significado. A Carla, por exemplo, continua fiel ao triatlon aos 30 anos, mas suas recompensas são outras. Ela pratica para manter a forma e, sobretudo, porque é um momento de lazer – que de lambuja ainda dá muito prazer.
As questões psicológicas Uma coisa é certa: seres humanos não nasceram para ficar parados como um poste. O corpo precisa de movimento. Não é por isso que você vai sair por aí imitando o que o vizinho ou uma personalidade de TV faz. Esse é um processo de escolha individual que depende das necessidades físicas e psicológicas de cada um. Muito difícil saber qual a sua? Veja alguns exemplos. Uma pessoa tem um trabalho bastante estressante e quer extravasar energia. Nesse caso, não é recomendado fazer musculação, que é o caminho contrário – acaba tencionando a musculatura. Se sua rotina é nervosa, experimente alguma atividade aeróbica, como correr, caminhar, nadar e pedalar, que estimulam a melhora do desempenho cardiovascular e diminuem a pressão sanguínea, o que ajuda a aliviar a tensão.
Por outro lado, quem trabalha com muita gente pode ter necessidade de ficar só em algum momento. Que tal experimentar atividades mais individuais, como a natação e a corrida? Já quem tem um cotidiano solitário e quer se socializar pode procurar uma equipe de corrida, esportes coletivos (como futebol, tênis, vôlei e basquete) ou ainda danças populares e de salão. Se você está transbordando de estresse, tente atividades mais lúdicas, que são pura diversão, como pedalar no parque e jogar uma pelada com os amigos. A ioga pode ajudar como coadjuvante de terapia para os casos de depressão e síndrome do pânico, por exemplo. A arte marcial é muitas vezes prescrita para quem busca sua força interior, e por aí vai.
“Não tem uma regra”, diz João Ricardo Cozac. “A escolha é mesmo subjetiva.” Um psicólogo do esporte cuida de casos específicos de atletas, mas também de pessoas que estão em conflito com a própria prática esportiva, por faltar motivação ou não se sentir realizadas. A ideia é pensar em conjunto e rever o que está acontecendo na vida, se a atividade não está descolada de quem você é. Cozac conta a história de um executivo de 45 anos que o procurou porque estava muito estressado no trabalho, sem energia, se alimentando de forma errada, dormindo mal – e toda atividade que fazia era chatíssima. Ele estava perdido. Começou a caminhar para expurgar as tensões, acompanhado por uma equipe num parque em São Paulo. Tomou gosto e passou a correr. “Ele se encontrou na atividade e transformou radicalmente sua disposição para encarar os desafios, ficou mais paciente e aberto para o diálogo”, diz Cozac.
A personalidade manda Você, como eu, certamente já abandou alguma atividade logo no começo. Pois é. As estatísticas mostram que nos seis primeiros meses de atividade física, 50% das pessoas que se inscreveram vão acabar desistindo. Há até algumas estratégias que ajudam a manter a regularidade: que o exercício seja feito próximo da casa ou do trabalho, ter um amigo que faça o esporte, o que é um baita estímulo, mas o principal é exatamente o assunto tratado aqui: que ele seja coerente com a sua personalidade.
Apesar das constantes mudanças, todos temos uma personalidade bem definida. Alguns psicólogos acreditam que, se você conhecer a fundo suas características, saberá com mais acertividade que atividade físíca se encaixa melhor no seu perfil. E existem classificações de personalidade. Segundo a psicóloga do esporte Marisa Agresta, uma delas explica que há quatro tipos básicos: os executivos, os ativos, os pensativos e os interativos.
Pessoas com características dos executivos gostam de ordem e resultados. Portanto, preferem musculação com planilhas de treino, Pilates – que é um exercício programado –, tênis e golfe. São os que gostam de atividades que apontam como melhorar e querem ver o resultado aparecer logo.
Os ativos são os que gostam de desafio, de atividades energéticas. Ação é a palavra de ordem. Como power-ioga, trekking, luta, basquete e futebol. Já os pensativos são pessoas tranquilas, que buscam competência, perfeição. Preferem aulas mais intelectuais, em que são ensinados os movimentos nos mínimos detalhes. Ou atividades introspectivas, como dança moderna, alongamento, mergulho e maratona.
Por fim, os interativos, como a palavra diz, buscam a interação humana. Eles se realizam com movimentos mais expressivos, de baixo impacto e tempos mais lentos. Preferem um ambiente acolhedor. Exemplos: ioga, hidroginásica, caminhada e tai chi chuan.
Tatear para acertar Se nessa altura do campeonato você já sacou o que pode ser legal para a sua personalidade, mas ficou travado só de pensar na lista de possibilidades, o que fazer? “Experimente bastante. Eu confio no tatear”, diz Carla di Pierro. “Aconselho sempre que a pessoa faça algumas aulas para ver como ela se sente.” É o tal jogo do acerto e do erro. Só que, nesse caso, você só tem a ganhar.